Ontem abri ao acaso o "Diário" de Miguel Torga , volume XVI, o último que o grande escritor e poeta escreveu e deparo-me com o seguinte texto, que pela sua actualidade, transcrevo com a devida vénia:
"Coimbra, 13 de Maio de 1990 - A imprensa, a rádio e a televisão dão-me às portas da morte.O telefone não para de tocar. Os jornalistas, cruéis, teimam, insistem, não desanimam. Querem, sadicamente saber pormenores. Se morro se não morro. E vão adiantando diagnósticos.Enfarte, hemorragia cerebral, paralisia. Neste mundo desapiedado não há mais lugar para o sofrimento íntimo, recolhido, que os bichos ainda podem sentir na toca. Agora já ningúem é dono de si e do seu pudor. Somos públicos e baldios.À hora menos pensada, por artes do primeiro bisbilhoteiro profissional que nos sai ao caminho, perdemos toda a densidade humana e ficamos espectrais e sem duração na leviana fugaciade de uma notícia"
Actualíssimo e profundamente real.
Eça de Queirós disse .- "Sobre a nudez forte da verdade - o manto diáfano da fantasia". Aqui é caso para dizer A nudez forte da verdade sem o manto dáfano da fantasia.
José Mestre -Entradas
O post devia ter uma fotografis de Torga. Não o fiz para não infrigir, eventualmenteas leis do Copyright